terça-feira, outubro 30, 2007

169. MAS VOU FAZER UM ESFORÇO.

De 22 a 27, em Seia, decorreu o 13º Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente - CineEco.
Muitos (e bons) filmes a concurso (grandes temas que dizem respeito a todos), júris esforçados e interessantes, ambiente de saudável partilha de ideias e experiências, debate acalorado de opiniões, sol, alguma chuva, prémios e muito boas recordações porque Seia é uma cidade que sabe acolher os visitantes e em todos deixa a vontade de voltar.
Ficou mais forte em cada um a consciência de que o planeta em que vivemos precisa do esforço urgente de todos antes que seja tarde para que não se cumpra a previsão anunciada no filme The 11th Hour, concebido e interpretado por Leonardo DiCaprio, que teve antestreia nacional neste CineEco, de que "O planeta vai continuar cá, mais verde do que nunca, com as águas mais límpidas, nós é que não vamos sobreviver para o ver".
Ainda podemos agir. E o cinema ajudou a descobrir caminhos, em Seia, de 22 a 27 de Outubro.
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Anthímio de Azevedo (lembram-se de ele aparecer em nossa casa, todas as noites, para dizer o tempo que ia fazer no dia seguinte?). Um homem sabedor, lúcido e inteligente que o CineEco homenageou muito justamente neste sua 13ª edição.


Os Júris do CineEco na sua (quase) totalidade: Júri Internacional, Júri das Extensões e Júri da Juventude.
Ficou a promessa de que para o ano haverá mais. Vão anotando nas vossas agendas. Seia vale a pena. O CineEco vale a pena. O ambiente vale a pena. Pensem nisso enquanto estamos na 11th hour porque a 12th será talvez tarde demais.

sexta-feira, outubro 19, 2007

168. NÃO SOU DIGNA DE TER UM BLOG.

É verdade! Ter um blog supõe uma certa capacidade de o manter vivo e alimentado, qual tamagoshi e isso não tem acontecido aqui no meu modesto T1. Eu sei que a minha vida tem sido uma correria, mas há quem corra mais do que eu e lá vai mantendo a escrita em dia (para descodificar isto, veja-se por onde tem andado o autor de Lauro António Apresenta).
Também não tenho visitado espaços da blogosfera, nem os habituais nem os outros. Enfim, sou a vergonha da classe bloguística!

E hoje não é mais do que um toca e foge. Para deixar ficar um registo rápido e fugidio.

Mas afinal, o que é que me tem mantido tão arredada do convívio virtual? O trabalho, sem dúvida, que se acumulou durante a minha imersão total na história sangrenta da época isabelina, mas também uma quantidade de acontecimentos.

O CineEco foi apresentado, no espaço ambientalista da EDP, no Marquês de Pombal, em Lisboa. Reuniu-se um grupo muito diversificado e simpático.


O filme do Lauro, com a colaboração estreita do Frederico, sobre a pintura da Maria Sobral de Mendonça, e em especial sobre esta exposição, intitulada de Tiqqun, foi apresentado, na Fnac, e a exposição inaugurou, na Câmara Municipal de Lisboa. Simpática e generosa, a Maria produziu abundante material onde esta foto da minha autoria era repetida. É um prazer e uma honra saber que ela se sente captada e retratada pela minha câmara.
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No Vá-Vá, dois Vá.Vá.Diando. Com Rogério Samora e Carlos do Carmo. Pretexto para conversa animada sobre um tema sempre apaixonante: ser artista.


Entretanto, uma ida a Turim, ao Cinemambiente, festival parceiro do CineEco.

A sala onde decorrem as sessões do festival, o Cinema Massimo.

A entrada para o Museu do Cinema (sim, é verdade, há fila para entrar no museu! E há uma sala de ópera cujos 1.600 lugares se encontram esgotados na sessão de 3ª feira, às 3 da tarde, para ver e ouvir Verdi).

O chapéu e o cachecol emblemáticos de Federico Felini.

Mais um prémio para um filme português que começa a ser campeão de prémios: "Ainda há Pastores?", de Jorge Pelicano. Desta vez o prémio foi o Green Award, prémio dos prémios, que distingue o melhor filme de temática ambiental do ano. Parabens, Jorge!

E o CineEco onde, há precisamente um ano, o filme do Jorge era exibido em estreia, está de novo à porta. Vamos, portanto, até à Serra.

terça-feira, outubro 02, 2007

165. OS (LIVROS) QUE (NÃO) MUDARAM A MINHA VIDA


Desde que o Lauro António deixou o desafio que eu tenho andado a pensar nos tais livros que não mudaram a minha vida. Não é fácil tarefa, até porque não me lembro deles. A lista telefónica de Lisboa? O Pantagruel? O manual de instruções do fax?

Por outro lado, quanto mais penso, mais "eles" se infiltram nos meus pensamentos. "Eles", os que mudaram alguma coisa na minha vida. E como a estes desafios se responde subvertendo-os (não é assim?), aqui ficam os responsáveis pelo que (mal ou bem) "eles" mudaram em mim.


Creio poder começar pela Condessa de Ségur (na colecção azul, bem entendido). Foi com "Os Desastres de Sofia" que aprendi a gostar de ler. Foi a invenção da leitura. Marcou. Só podia.

Depois será justo referir Jules Verne. Com ele descobri que o mundo é infinito como a imaginação humana. Li-o todo, numa colecção de capa vermelha com ilustrações magníficas, que habitava - e continua a habitar - na prateleira mais alta da estante do meu pai. Não sou muito dada a monumentos fúnebres, mas gosto de saber que os restos mortais de Jules Verne continuam sob o signo da aventura.

Hemingway foi talvez o primeiro autor "moderno" que li ("primeiro, os clássicos"). Deu-me uma outra dimensão da literatura. Era desmedido, violento, poderoso. A chamada "linguagem literária" ganhou outra dimensão.

Estavam a começar os anos 60 quando um (jovem) autor português publicava aquele que ia ser um livro de culto de geração. Refiro-me a Augusto Abelaira e a "A Cidade das Flores". O romance de Rosabianca e Giovanni ainda hoje permanece na minha memória como uma janela que se abria para a liberdade e para a vida.
Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Poderiam ter mudado a minha vida. Era o fascínio de Paris, do Café de Flore, do Marais, de uma intelectualidade de esquerda, do "Deuxième Sexe", das "Mains Sales". No entanto, o fascínio não resistiu à erosão.

Mas depois foi a descoberta de Marguerite Duras e essa, sim, mudou a minha forma de entender a literatura e também a sua interacção com o cinema. "India Song", "Le Ravissement de Lol Valérie Stein", "Le Vice-Consul" e tantos outros tornaram-se títulos mágicos. E assim irão ficar.

Vergílio Ferreira. Mudou parte da minha vida. O homem e a obra. Tenho saudades de conversar com ele, de o ouvir na melodia de uma autobiografia, "Nasci em Melo, na Serra da Estrela...", capturado num filme do Lauro António.

Paul Auster, Enrique Vilas-Matas, Haruki Murakami. Muito recentes para saber as marcas que deixarão. Para já, são o meu vício, o meu prazer.

António Lobo Antunes. Sem dúvida. Mudou toda a música do que é a literatura. É uma sinfonia sem medida. Ninguém escreve como ele. É ele próprio que o diz. E é capaz de ter razão.

Pronto, são dez. Não obrigatoriamente os livros da minha vida, como é óbvio. Não são sequer os autores da minha vida, com algumas excepções. Faltam muitos muito importantes, definitivos e imensos. Mas são os que me lembro de terem alterado alguma coisa bem dentro de mim. De terem deixado marca para sempre.
Era isto, Lauro?